
Num trabalho de 1906 chamado “Meus pontos de vista sobre o papel da sexualidade na etiologia das neuroses”, Freud descreve a evolução de suas teorias acerca da sexualidade percebida como fator causal nas neuroses.
Podemos identificar 3 grandes momentos dessa teorização:
1 – Freud acredita que as neuroses são causadas por abusos sexuais sofridos pelo sujeito na infância e praticados por adultos ou crianças mais velhas.
2 – Freud acredita que tais abusos não necessariamente aconteceram e que são manifestações sexuais espontâneas na infância que levam à neurose.
3 – Freud percebe que essa sexualidade infantil espontânea está presente em todas as crianças e que é a reação do sujeito a ela que está na origem da neurose.
A respeito desse terceiro e definitivo momento de sua teorização sobre as causas da neurose, Freud diz o seguinte:
“Não importavam, portanto, as excitações sexuais que um indivíduo tivesse experimentado em sua infância, mas antes, acima de tudo, sua reação a essas vivências — se respondera ou não a essas impressões com o ‘recalcamento’.”
Essa citação mostra que, para Freud, a pergunta que devemos fazer frente à neurose NÃO É “o que aconteceu na infância para que essa pessoa se tornasse assim?”.
A pergunta correta seria: “Como essa pessoa LIDOU na infância com seus próprios impulsos e com o que lhe aconteceu para que se tornasse assim?”.
Em outras palavras, Freud sai de uma primeira teoria que colocava no AMBIENTE todo o peso da produção da neurose e vai para o polo oposto…
Sim, ao dizer que, na causação da neurose, o mais importante é a forma como o sujeito reagiu às impressões infantis, Freud relativiza o impacto do ambiente e “absolutiza” o papel do sujeito nessa história.
É como se ele estivesse inadvertidamente dando razão àquela frase de pára-choque de caminhão atribuída a Sartre:
“Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.”
Felizmente, autores como Ferenczi e Winnicott iriam “corrigir” esse exagero subjetivista freudiano e resgatar, na teoria psicanalítica, o peso do AMBIENTE na produção do adoecimento emocional.
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