
Não dá para substituir terapia de verdade por uma pretensa autoanálise.
Apesar de não se encontrar formalmente com outra pessoa para fazer análise, Freud não estava tecnicamente sozinho em sua suposta autoanálise.
Com efeito, ele tinha INTERLOCUTORES com os quais compartilhava as descobertas que fazia durante esse processo.
Quem foram eles?
Primeiramente, seu amigo (à época) Wilhelm Fliess, com quem trocou dezenas de cartas, e, por incrível que pareça, SEUS PRÓPRIOS LEITORES.
Sim! Livros como “A Interpretação dos Sonhos” e “A Psicopatologia da Vida Cotidiana” registram uma série de elaborações que Freud empreendeu em sua “autoanálise”.
Nesse sentido, nós, destinatários virtuais desses textos, ocupamos, de certa forma, o lugar de analistas para Freud.
— Mas, Lucas, como isso é possível? O analista, então, é meramente um interlocutor?
Não, caro leitor.
É óbvio que as INTERVENÇÕES do analista são essenciais para o progresso do tratamento.
É por isso, inclusive, que podemos dizer, sem medo, que a autoanálise de Freud foi capenga.
Provavelmente, o velho teria avançado muito mais caso tivesse se deitado no divã de algum de seus alunos.
Por outro lado, os resultados da terapia psicanalítica não podem ser atribuídos exclusivamente àquilo que o analista diz ou faz.
O simples fato de haver alguém para quem encaminhamos nossas queixas, indagações e elaborações já é, em si mesmo, terapêutico.
Isso acontece porque, no momento em que articulamos nossos pensamentos na forma de uma fala livre (exigência da Psicanálise), temos a oportunidade de perceber ligações, semelhanças e equivalências entre nossas ideias que só se evidenciam no âmbito da FALA.
E não de qualquer fala. Afinal, como se sabe, falar sozinho não produz o mesmo efeito.
Eventuais insights só acontecem quando falamos com a suposição de que TEM ALGUÉM OUVINDO o que estamos dizendo.
É só falando livremente com um outro que a gente consegue SE ESCUTAR.
Se esse outro RESPONDE na forma de uma interpretação ou de um corte, a escuta de si fica ainda mais refinada.
Mas, se ele simplesmente ocupa silenciosamente o lugar de destinatário do nosso discurso, isso já é suficiente para que os nossos ouvidos se abram à nossa própria voz.
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