
No finalzinho da quarta de suas “Cinco Lições de Psicanálise”, Freud diz o seguinte:
“Podem descrever o tratamento psicanalítico, se quiserem, como simplesmente uma continuada educação que visa superar os resíduos infantis.” (tradução da editora Cia. das Letras).
Esses “resíduos infantis” aos quais o autor se referia naquele contexto são as fixações dos pacientes neuróticos a formas de prazer sexual pré-genitais.
No entanto, à luz de descobertas posteriores de outros autores da Psicanálise como Ferenczi e Winnicott, podemos ampliar o alcance dessa noção de “resíduos infantis”.
Com efeito, além do erotismo pré-genital, existem outros elementos próprios da infância que podem permanecer em nós na vida adulta produzindo adoecimento psíquico.
Um desses elementos é o que eu chamaria de ATITUDE DE ESPERA.
Como já disse em algumas aulas lá na CONFRARIA ANALÍTICA, a condição do bebê ao nascer é análoga à de um adulto que acaba de chegar em um país estrangeiro sem saber falar o idioma local.
Certamente, o processo de adaptação a esse novo contexto seria facilitado se esse adulto pudesse contar com pessoas que o acolhessem e lhe dessem suporte.
É exatamente isso o que o bebê, esse pequeno forasteiro, ESPERA de seus pais: acolhida, apoio, segurança etc.
Todavia, seus genitores podem não se comportar como bons anfitriões. Resultado: a criança fica de mãos abanando.
O problema é que o bebê não tem autonomia suficiente para se desligar dos pais e procurar outras pessoas que o recepcionem no mundo da maneira como precisa (e merece).
Assim, a criança se vê obrigada a nutrir a esperança de que um dia seja finalmente tratada com o cuidado necessário.
No entanto, essa expectativa amiúde não é satisfeita.
Consequência: com alguma dose de sorte, a criança cresce, se desenvolve, mas chega na vida adulta ainda carregando a esperança de ser acolhida, respeitada, compreendida.
O sujeito acabará, então, preso a vínculos insatisfatórios porque, fixado a essa ATITUDE DE ESPERA, não consegue se apropriar da autonomia que agora possui como adulto.
No Inconsciente, ele ainda continua sendo aquela pobre criança que ainda nutre a vã expectativa de ser bem acolhido pelos pais.
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