Por que Winnicott não aderiu ao conceito de pulsão de morte? (final)

No post anterior abordamos as razões pelas quais Freud se sentiu forçado a admitir a existência de uma pulsão de morte, as condições culturais que permitiram a elaboração do conceito bem como suas contradições internas. Aquilo fora apenas um preâmbulo para o que hoje pretendo expor com a intenção de responder à pergunta que efetivamente motivou este texto.

O que Winnicott trouxe de novo para a psicanálise?

Inicialmente, é preciso que o leitor ainda não versado no pensamento de D. W. Winnicott possa ter acesso aos pressupostos a partir dos quais o autor enuncia seu discurso psicanalítico. Tais pressupostos estão diretamente relacionados ao campo de atuação clínica ao qual Winnicott se dedicou durante toda a vida, a saber: a pediatria.

Ainda antes de empreender uma formação psicanalítica, Winnicott já atuava como pediatra, o que lhe permitiu ter acesso a um grande aprendizado acerca das relações entre os bebês e suas mães, saber que faltou a Freud. Winnicott precocemente notou que a mãe (ou outro responsável por cuidar do bebê) exercia um papel fundamental no desenvolvimento da criança, de sorte que se tal função não fosse exercida de maneira boa o suficiente a criança inevitavelmente não se desenvolveria a contento e teria no futuro patologias emocionais específicas.

Esse discernimento por parte de Winnicott acerca da importância da presença ativa da mãe no desenvolvimento do sujeito se colocava na via oposta à da tradição psicanalítica, a começar por Freud. Afinal, o pai da psicanálise elaborou a função da mãe não como ambiente, mas como o objeto libidinal primordial, objeto traumático, diga-se de passagem, pois deixaria como marca para o sujeito o desejo de retorno a um estado inicial de gozo excessivo.

Além disso, o entendimento de que o sujeito só pode se constituir a partir da presença suficientemente boa de um ambiente fez com que Winnicott se apercebesse de que o “eu” é uma função a ser desenvolvida, diferentemente de Freud que trabalhava já com a suposição de um sujeito na criança. Essas diferenças levaram Winnicott a encarar seu trabalho como uma espécie de complemento à teoria psicanalítica tradicional. Com efeito, considerava que o que descobrira no trabalho com bebês deveria ser visto no âmbito teórico como um estágio anterior ao da relação com objetos, fase que fora a principal fonte de investigação para Freud e seus discípulos.

No entanto, o que Winnicott fez de fato foi fundar um novo paradigma no interior da doutrina psicanalítica, com conseqüências teóricas e práticas muito específicas. Uma delas é a recusa do conceito de pulsão de morte.

Pulsão de paz

Ora, o cerne da noção de pulsão de morte, como vimos, está na idéia de que no indivíduo age uma força que o impele a um retorno ao estado inorgânico (morte) do qual ele seria proveniente. Winnicott contrapõe a essa tese dois fatos óbvios: o primeiro é o de que nenhum indivíduo orgânico surge a partir do estado inorgânico. Em outras palavras, só a vida é capaz de gerar outra vida. A título de adendo ao comentário de Winnicott, posso dizer que até mesmo as especulações freudianas que não fazem referência ao indivíduo humano, mas a organismos unicelulares não estão de acordo com muitos dos achados da física moderna que têm borrado cada vez mais as fronteiras do orgânico e do inorgânico a partir do estudo dos fenômenos quânticos.

Para Winnicott, a tendência de descarga total de tensões, que de fato pode ser verificada em nosso aparelho psíquico, não deve ser vista tal como Freud supôs como uma tendência para a morte, mas sim para um estado de coisas que mais se assemelharia à condição inicial do bebê no útero materno, isto é, um estado de total pacificação que não implica na ausência de vida. Aliás, as meditações e diversas técnicas orientais de concentração estão aí para mostrar que um sentimento de ausência de tensões é possível de ser alcançado sem que, para isso, não haja vida.

Desamparo e cuidado

O que levou Freud a incorrer no erro de supor que o que se visa nessa tendência geral de nosso psiquismo é a morte em si mesma e não simplesmente a paz foi, em primeiro lugar, sua concepção concernente às origens do sujeito humano. Para Freud, no princípio era a falta e o excesso. O bebê paradigmático do discurso freudiano é a criança que chora com fome, se lembra do trauma que foi ter nascido e por isso já sabe o que significa o desamparo; é amamentado pela mãe; junto com a satisfação de ter sido alimentado, sente um prazer erótico na mucosa da boca, ou seja, algo que se acrescenta à nutrição como um excesso; e vai passar a vida inteira buscando uma satisfação para esse excesso que nunca poderá ser levada a cabo. Em outros termos, para Freud o sujeito humano é, desde o início, um sofredor, seja pelo desamparo, seja pelo excesso.

Winnicott demonstrará ao longo de todo o seu percurso teórico que esse sofrimento só será fato para aquele indivíduo que em momentos anteriores ao bebê paradigmático de Freud não experimentou um ambiente suficientemente bom. Logo, para Winnicott, no princípio não era nem a falta nem o excesso, mas sim a harmonia existente entre o bebê e a mãe, advinda do estágio de dependência absoluta do cuidado materno que o bebê experimenta após o nascimento. Harmonia necessária para que o bebê possa constituir-se como um sujeito existente. É essa harmonia total, plena, que o vivente busca reproduzir e que Freud pensou tratar-se de uma procura da morte, justamente porque em seu esquema teórico tal harmonia não cabia no curso da vida, ou seja, só poderia ser equivalente à morte.

Desculpa para repensar o mal

A outra razão pela qual Freud caiu no engodo de confundir paz com morte foi o fato de que toda essa elucubração em torno do orgânico e do inorgânico era apenas um modo de Freud introduzir com uma retórica científica suas novas opiniões a respeito do problema da agressividade. Freud era um iluminista e, como tal, confiava nas luzes da Razão para dar jeito no mundo. Quando veio a guerra, a perseguição nazista e uma série de outras barbáries, só restaram a Freud duas alternativas: ou ele reconhecia que a Razão tal como havia sido formulada desde o Iluminismo estava equivocada ou mantinha-se firme em seu discurso racionalista e tentava explicar – pela via da própria Razão – o que havia acontecido. E foi essa a opção adotada pelo médico vienense.

Assim, para Freud, não seria a Razão que estava errada, mas sim os próprios homens e esses errariam porque dentro deles habitava uma pulsão de destruição que, em não matando eles próprios (masoquismo primário), mataria seus semelhantes ao ser deslocada para o mundo externo. Ou seja, Freud explicou a causa pelo efeito, como se dissesse: “por que os homens matam? Porque existe neles um impulso de matar.”. É, portanto, uma explicação que não explica, só adia o problema. E Freud de fato queria adiá-lo, pois para respondê-lo ele teria que colocar em questão a própria racionalidade moderna. O pai da psicanálise preferiu resignar-se e dizer em 1930 que o homem sofre um mal-estar crônico, irremediável, ocasionado justamente pela presença silenciosa da pulsão de morte em cada organismo.

A agressividade como defesa

Winnicott, ainda que não o soubesse, não tinha compromissos com a Razão iluminista. E é por isso que ele enxerga a insuficiência da explicação freudiana da agressividade pela da pulsão de morte. Para o pediatra inglês, em primeiro lugar não se pode dizer que exista no indivíduo uma pulsão de destruição autônoma ao lado de uma pulsão de vida. Seu argumento, embora não faça menção a nenhuma filosofia, é o mesmo que Sócrates utiliza na conversa com Mênon e que C. S. Lewis expressa em “Cristianismo puro e simples”: ora, ninguém busca o mal pelo mal, ou seja, é ilógica a existência de uma pulsão de destruição agindo no organismo de maneira independente da pulsão sexual, pela simples razão de que aquele que faz o mal, o faz porque o considera um bem, ou seja, a destruição constitui-se apenas como um meio para a realização de um fim que, do ponto de vista daquele que age, é um bem.

Winnicott indica isso demonstrando dois fatos: em primeiro lugar, o de que o que nós chamamos de agressividade ou destruição, no início da vida não é exercido com o objetivo de efetivamente destruir. Winnicott afirma que no início da vida o amor é marcado por uma voracidade tamanha que pode fantasisticamente ocasionar a destruição do objeto amado. No entanto, o que o bebê pretende é a incorporação plena do objeto, sendo a destruição apenas um efeito colateral do processo e não o que é originalmente visado. Aliás, assim que bebê se dá conta de que seu amor acabou por destruir o objeto na fantasia, ele experimenta pela primeira vez a sensação de culpa – é o que Winnicott, na esteira de Melanie Klein, chamou de posição depressiva.

Por mascarar essa dinâmica afetiva, o conceito de pulsão de morte pode ser visto como uma reificação da agressividade e, como tal, sem utilidade alguma. Ele impede que se veja as reais fontes históricas do comportamento agressivo como, por exemplo, a reação por parte do indivíduo a acontecimentos que quebram seu sentimento de continuidade do ser. Não há nenhum mistério nisso: Winnicott só constatou o fato óbvio – que Freud não quis ver pelas razões já expostas acima – de que nós nos tornamos agressivos por motivos específicos, pelas experiências de vida que nos forçam a adotar o comportamento agressivo como única forma de nos defendermos. E isso vale não apenas para o relacionamento entre indivíduos, mas também entre nações. Nesse sentido, o conceito de pulsão de morte se torna irrelevante, não é uma hipótese heurística, pois a explicação da agressividade está na história do sujeito. Uma suposta tendência inata para a violência é pura tautologia.

O que muda na prática

A guisa de conclusão, quero dizer que as diferenças entre uma concepção que postula a idéia de uma pulsão de morte e outra que não o faz não se dão apenas no nível abstrato da teoria, mas ensejam distinções importantíssimas na prática. Por exemplo, na análise do problema da crescente violência em nosso país, a aplicação da noção de pulsão de morte como hipótese explicativa pode acabar justificando condutas eminentemente repressivas por parte da polícia e da justiça: afinal, se o homem possui em si uma tendência natural para a violência, não há possibilidade de recuperá-lo, restando apenas o emprego de penalidades cada vez mais severas como forma de brecar o advento externo da pulsão de destruição. Por outro lado, se a agressividade é vista como um comportamento advindo de uma história singular, como uma defesa empregada pelo sujeito na condição de último recurso de enfrentamento de condições que se lhe tornaram adversas, a visão acerca da criminalidade é totalmente distinta da primeira: buscar-se-á em primeiro lugar compreender as origens da violência e, em compreendendo-as, buscar solucionar o problema (que, por ser histórico e não pulsional, pode ser solucionado) pela organização de uma ambiente suficientemente bom que possa fazer com que o sujeito não precise recorrer ao comportamento agressivo como defesa.

***

Não pretendi aqui realizar uma análise completa das razões que levaram Winnicott a não considerar o conceito de pulsão de morte como útil. Ainda restam alguns aspectos a serem explorados, o que posso fazer na discussão com os leitores nos comentários ou em outra ocasião aqui mesmo no blog.

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16 comentários sobre “Por que Winnicott não aderiu ao conceito de pulsão de morte? (final)

  1. Alisson

    Lucas, faz muito sentido a idéia de pulsão de paz de Winnicott. O exemplo da meditação é bem conveniente.

    Abraço!

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  2. “Aliás, assim que bebê se dá conta de que seu amor acabou por destruir o objeto na fantasia, ele experimenta pela primeira vez a sensação de culpa – é o que Winnicott, na esteira de Melanie Klein, chamou de posição depressiva.”

    Só essa parte já da um texto sobre o amor primitivo que destrói ao invéz de construir. Um amor muito mais infantil, e egoísta, narcisista, ao invés do amor mais “pleno” (se é que pode-se chamar assim) do que sentimos na sexualidade adulta (mais madura) em que podemos amar nos doando ao outro que nos completa sem que o outro verdadeiramente nos complete. Nos completa sem necessariamente precisarmos destruir, incorporar o outro. Lembra-me Jung quando disse que na relação amorosa são sempre duas laranjas interias que se se completam. Já neste amor primevo que gera culpa pela destruição do objeto amado e consequentemente um vazio deixado pelo objeto destruído, é uma laranja que ainda não ainda não esta completa…

    Abraços e como sempre o Texto está ótimo….

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  3. E no final levou pro campo ético do meu trabalho… rsrsrsrsrs

    Lucas, Aqui no Projeto Murialdo onde atendo menores infratores posso ver claramente que a “pulsão de morte” na verdade é uma forma de manter o indivíduo vivo. A agresividade pode ser vista sim (fato que tentamos mostrar para outros profissionais aqui) como uma forma, talvez a única, de uma pessoa não apenas sobreviver, mas tentar existir.

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  4. Muito bom Lucas!

    Relativamente às divergências entre Winnicott e Freud, penso que o que faltou mais a Freud foi tentar perceber as suas teorias à luz de individuos sem patologias e desligar-se das suas próprias vivências, uma vez que a maior parte dos seus escritos relacionam-se com a relação que teve com o próprio pai, com alguns pacientes que teve em consulta, etc. Winnicott foi mais longe e teve a tal experiência de Pediatra (e não Pedopsiquiatra) que lhe permitiu uma compreensão mais ampla do sujeito «normal» para, assim, perceber o «anormal».

    Não tinha grandes conhecimentos sobre essa dita Pulsão de Paz e as divergências winnicottianas a respeito da Pulsão de Morte. Mas faz sentido, principalmente com o exemplo prático que você deu. No plano da justiça verificamos muito, pelo menos cá em Portugal, a noção de pulsão de morte nos criminosos. É psicopata, já nasceu assim, não há nada a fazer – 20 anos de prisão. O que, obviamente, resulta numa repetição das condutas psicopáticas quando o sujeito sai da prisão uma vez que não houve qualquer intervenção psicoterapêutica.

    Um abraço!!!

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  5. Lucas Nápoli

    Olá Cláudio! Obrigado pelo comentário e pela ilustração acerca do funcionamento da justiça em Portugal. Aqui no Brasil esse pré-julgamento com base numa suposta maldade inerente ao ser ocorre cotidianamente.

    Concordo com você quanto ao que disse sobre a influência da biografia de Freud em sua teoria. O próprio Lacan certa vez observou isso dizendo que “o complexo de Édipo era um sonho de Freud.”

    Aliás, um dos expedientes de Lacan na segunda clínica foi o de depurar a psicanálise da biografia de seu fundador, apontando para as coordenadas fundamentais da descoberta freudiana que estavam para-além da pessoa de Freud – e, por conseguinte, do complexo de Édipo.

    Mas, talvez, essa relação entre discurso e biografia seja indissociável. Por exemplo, muito provavelmente Winnicott não teria elaborado a tese do “ambiente suficientemente bom” se não tivesse tido uma infância marcada justamente pela presença de tal ambiente.

    Um grande abraço!

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  6. Lucas Nápoli

    Olá Marco! Bastante pertinentes suas observações. Elas me fazem pensar no pulo do gato que Winnicott dá sobre Melanie Klein. Enquanto para essa, a posição depressiva seria, por assim dizer, o ponto de chegada da constituição subjetiva, talvez um final de análise, para Winnicott segue-se a esse momento de reconhecimento da culpa por ter destruído o objeto, um ato de reparação (uma espécie de pedido de perdão) feito pelo bebê e que, se aceito pelo ambiente suficientemente bom, gera como consequência justamente essa consciência de que se pode amar sem destruir.
    Um grande abraço!

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  7. Lucas Nápoli

    Perfeito Marco! Winnicott trabalhou durante boa parte da sua vida com crianças à época chamadas de “delinquentes” e o ponto de vista dele é precisamente esse: a destruição, o roubo, a agressão se tornam constituintes da conduta do sujeito como uma espécie de “pedido de socorro”. É nesse ponto que introduzir uma “pulsão de morte” atávica no sujeito só complica o trabalho. Há um livro de Winnicott dedicado especialmente a essa temática. Chama-se “Privação e delinquência”.

    Grande abraço e apareça sempre!

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  8. Lucas, precisamente este livro eu tenho a disposição com o pessoal do Projeto no qual faço estágio… mas… ultimamente estou técnicamente sem tempo para parar e ler sobre este tema, assim que terminar a prova do mestrado acho que vou dar uma olhada nele…

    Abraços

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  9. Laerte Alves

    Olá Lucas. Acabo de conhecer teu blog e estou admirado com sua produção. Quanto a este artigo em específico, tenho algumas perguntas: como Winnicott percebe (se é que o faz) a perversão? Perversão aqui fora do campo somente sexual, mas no contexto social.
    Ou ainda, o que Winnicott nos explica sobre a capacidade de poder oferecer continência, acolhimento ao outro? Ele considera esta capacidade, empática, como um resultado natural de um processo de amadurecimento em um ambiente suficientemente bom?
    Nos falamos, um abraço!

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  10. Lucas Nápoli

    Olá Laerte! Fico muito feliz por saber que você gostou do blog! Espero que possamos nos manter em contato para trocarmos mais idéias!
    Vamos às suas perguntas. Vou começar a respondê-las pela última:
    Sim, para Winnicott, a empatia que, em termos mais simples, significa a capacidade de se colocar no lugar do outro, desenvolve-se sim a partir da presença do ambiente suficientemente bom. No entanto, isso só é possível porque o sujeito traz em si de maneira inata uma tendência a desenvolver tal capacidade, que emerge, na presença do ambiente suficientemente bom, quando o bebê se dá conta de que a voracidade de seu amor pela mãe acabou por machucá-la. Também nesse momento,a imagem da mãe que frustra (e que, por isso provoca raiva no bebê) e a da mãe que satisfaz são conjugadas no psiquismo do bebê como uma imagem só. É nesse momento que o sentimento ético ou o que Winnicott chama de “superego espontâneo” emerge no bebê como consciência de que o outro pode sofrer a partir de minha ação. Logo, é nesse momento que o bebê se torna capaz de se colocar no lugar do outro. Note-se que esse processo se desenvolve naturalmente na interação do bebê com o ambiente e não a partir da introdução de uma Lei externa, como é o caso na leitura lacaniana.
    Quanto à sua segunda pergunta, acerca do comportamento “perverso”, a resposta a ela está ligada à resposta à primeira questão. Winnicott denomina esse tipo de comportamento de “tendência anti-social”. E essa tendência se desenvolve justamente por uma falha do ambiente nesse momento em que o bebê tende naturalmente a conjugar as imagens da mãe que frustra e da mãe que satisfaz, muitas vezes, porque o ambiente frustra mais do que satisfaz. Não podendo uni-las, o bebê não tem acesso ao sentimento ético, à consciência de que o outro sofre a partir de suas ações. O sujeito passa, então, a se defender dessa interferência em seu desenvolvimento com comportamentos agressivos que, de alguma forma, são uma espécie de “pedido de ajuda”, como se a criança dissesse: “Pelo amor de Deus, me mostrem que há alguém aí sofrendo com o que eu faço!”. Winnicott demonstrou, trabalhando com crianças à época chamadas de “delinquentes”, que a disponibilização de um ambiente suficientemente bom, isto é, um ambiente regular, sem caos, que permitisse à criança regredir a essa etapa de conjugação dos ambientes bom e mau e efetivamente conjugá-los, pois bem, a presença desse ambiente seria capaz de reparar a falha inicial do primeiro ambiente da criança, fazendo com que essa pudesse prescindir de seu comportamento “delinquente” e ter acesso ao sentimento ético e à capacidade empática.

    Espero ter dirimido suas dúvidas. Todavia, fique à vontade para dizer se algum ponto não ficou claro ou para enunicar outras questões.

    Apareça sempre!
    Um grande abraço!

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  11. Isabella Bianchi

    Olá Lucas.
    Gostei de seu blog. Gostaria de saber quem é o autor destagravura que vc usou para ilustrar seu post.

    att.
    Isabella

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  12. Lucas Nápoli

    Olá Isabella! Fico feliz que tenha gostado do blog! Espero sua presença frequente por aqui.
    Sobre a imagem, trata-se do personagem grego Tânatos, que Freud utilizou para nomear a pulsão de morte em contraposição a Eros. Encontrei a imagem buscando no Google pelo nome do personagem grego, mas creio que não é de autoria de algum pintor famoso…

    Grande abraço e apareça sempre!

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  13. Jorge

    Oi Lucas.

    Parabéns pelo seu trabalho. Estou começando a me aprofundar nos conceitos psicanalíticos e encontrar seu site foi como achar um oásis no meio de um deserto de confusão e complexidade. Você tem uma didática excelente, continue assim, penso que deve haver muita gente precisando dessa sua virtude.

    Sobre a crítica de Winnicott à pulsão de morte, entendo que Winnicott seja um autor relativamente conhecido, mas essa crítica já havia sido feita antes por Wilhelm Reich no livro Análise do Caráter. Nesse livro Reich deixa claro que não adere ao conceito de Freud e o motivo para isso: basicamente o mesmo explicado no seu post como sendo de Winnicott.

    Abs.
    Jorge

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  14. Lucas Nápoli

    Olá Jorge! Muito obrigado pelos elogios! Fico muito feliz por sua comparação entre o site e um oásis.

    De fato, Reich fizera essa crítica à pulsão de morte, assim como Winnicott e outros autores. Talvez pudéssemos falar acerca da existência de uma vertente psicanalítica que considera a pulsão de morte como um conceito pouco útil.

    Um forte abraço e apareça sempre!

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  15. Allan Sobreira

    Lucas, já faz algum tempo que venho lendo o seu blog e devo dizer que eu admiro bastante o que você vem fazendo. “Psicanálise em Humanês”, é exatamente isso o que eu venho tentando fazer em sala na minha humilde posição de monitor de uma disciplina de psicanálise, e aqui eu tenho encontrado um material valioso que não canso de divulgar. Mas deixando apresentações e elogios um pouco de lado, vamos ao ponto.

    Eu tenho uma admiração muito grande pelo Winnicott, e quanto mais eu o leio mais eu vejo que sua teoria traz um complemento muito saudável para a psicanálise que raramente parece entrar em conflito direto com outros aspectos da teoria psicanalítica. Mas não foi o caso aqui. Considerar a pulsão de morte como uma pulsão de paz é uma virada aparentemente absurda, mas que a força da argumentação e dos exemplos tornam perfeitamente compreensíveis e nítidas. Apesar disso, me veio à mente algumas questões.

    1º) Em 1914 Freud publicou um texto bastante denso (que este ano completa 100 anos!) chamado “À Guisa de Introdução ao Narcisismo”, título que depende de tradução. É sobre esse Narcisismo desenvolvido nesse texto que reside a minha problemática. Quando Winnicott traz essa visão de uma relação harmoniosa entre a mãe e o bebê, dependência absoluta -> dependência relativa, etc. como momentos anteriores à relação objetal, supostamente seria o período em que, para Freud, o bebê estaria vivenciando o Auto-Erotismo e o Narcisismo Primário. Qual seria o lugar desse ponto da teoria de Freud na de Winnicott?

    2º) Na argumentação do seu post a respeito das mudanças práticas que traria a mudança de compreensão acerca da pulsão de morte (agora de paz) , temos a seguinte passagem

    “Por exemplo, na análise do problema da crescente violência em nosso país, a aplicação da noção de pulsão de morte como hipótese explicativa pode acabar justificando condutas eminentemente repressivas por parte da polícia e da justiça: afinal, se o homem possui em si uma tendência natural para a violência, não há possibilidade de recuperá-lo, restando apenas o emprego de penalidades cada vez mais severas como forma de brecar o advento externo da pulsão de destruição.”

    Consigo compreendê-la, mas penso que talvez essa afirmação tenha extrapolado um pouco as coisas. O fato de supostamente termos uma tendência natural à destruição nada diz sobre a sua intensidade em que se expressa no sujeito, podendo inclusive ser inexpressiva e tampouco à incapacidade de ser canalizada para outras formas de expressão, como as artes marciais e a prática médica da cirurgia como formas de sublimação. Estaria eu equivocado?

    Pelas datas de suas últimas respostas não sei ao certo se serei respondido, mas de qualquer forma agradeço demais pelo material que você tem se dado ao trabalho de elaborar que tornam o estudo psicanalítico mais leve depois de um impiedoso (porém prazerozo) trabalho de leitura aos teóricos que nem de longe são simples de serem compreendidos.

    Muito obrigado e meus parabéns.

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